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Pelo Pico


Dia 1
Bastou-me aterrar no Aeroporto do Pico para o meu batimento cardíaco se tornar mais vagaroso. 
Tudo é mais calmo, mais lento, mais vagaroso nos Açores. As coisas são mais vivas, o verde é muito mais verde e a cor da água muito mais translúcida. A temperatura é amena e bastante húmida. Não se ouvem frequentemente buzinas ou sirenes, conduz-se com mais calma. 
Acho até que os açoreanos falam mais devagar, pronunciam bem as palavras. Fazem-se perceber bem. 
Percorremos parte da vila a pé e paramos nas piscinas naturais e nas poças. Da minha bucket list já posso riscar o "Mergulhar no oceano" - hoje foi o dia. 






Dia 2
O segundo dia foi, numa palavra, produtivo. Tínhamos uma visita guiada à Gruta das Torres pelas 13h30, pelo que aproveitamos a manhã para visitar a Baía das Canas e as lagoas antes da visita. 
A Baía das Canas é uma das "praias" da ilha, praticamente uma praia isolada de areia negra. De uma natureza intocada tal, que por ali passam imensos pássaros, abelhas e libelinhas - é sinal de natureza no seu estado mais puro. 
Seguimos para as lagoas pelo Caminho da Meia Encosta - visitámos todas excepto a Lagoa do Capitão, que guardamos para o trilho do dia seguinte. 
Várias vezes duvidei se as paisagens fossem reais. 
Descemos para a Madalena e seguimos para a Gruta das Torres, o maior tubo de lava de Portugal e o quinto da Europa, fiquei a saber. 
A visita é guiada e grátis para estudantes e é feita de capacete e lanterna, toda a caminhar pela gruta. Calhou-nos um guia fantástico, que aposta nos "Isto não faz parte da visita mas ...", terminamos com a possibilidade de meditar na gruta, de lanternas desligadas. 
Quando a visita terminou o relógio marcava as 15h, pelo que a tarefa seguinte era encontrar onde almoçar. Depois de várias tentativas falhadas pela hora, terminamos a comer queijo fresco e curado da ilha e um spaghetti com camarão. Digamos que queijo é uma das minhas fraquezas, e o açoreano é fenomenal. 
Seguimos pelas inúmeras vinhas que são património da humanidade considerado pela UNESCO desde 2004. O Pico é muito forte em adegas e vinhas, algo impressionante. 
Ainda parámos no Cachorro, para que pudesse observar o busto de um cão que se formou naturalmente na pedra. 
Ao final da tarde consegui, pela primeira vez, vislumbrar o Pico sem as nuvens que o tapavam desde que aterrei na ilha. 














Dia 3 
A manhã foi dedicada ao Trilho do Capitão: cerca de 10k em estrada, terra batida e pedra/rocha com bastante musgo. De dificuldade média com alguns kms bastante técnicos em floresta densa e paisagens de cortar a respiração. Apelidado por nós de "floresta mágica" por quase conseguirmos imaginar que estamos dentro de um panorama estilo Senhor dos Anéis
O almoço foi nas Furnas, onde provei lapas - provei e aprovei. São deliciosamente típicas de cá. 
O resto da tarde foi passado na "praia" a aproveitar o sol de setembro que ainda se fazia sentir bastante bem por lá. 




Dia 4 
Para contrastar, um dia mais tranquilo. O dia estava quente e bastante húmido mas um pouco fechado, com bastantes nuvens. 
Aproveitamos para explorar a outra ponta da ilha. 
Almoçamos na Aldeia da Fonte, um dos restaurantes mais bonitos da ilha e com uma ementa bastante típica e diversa: de salivar. Queijo da ilha para entrada e naco de atum fresco como prato principal. Provei inhame pela primeira vez e adorei - um primo afastado da batata doce, digo eu. 
Voltamos para casa por um caminho mais longo que permitiu conhecer o lado oposto da ilha, até ao farol, que fica na pontinha da ilha. Santo Amaro, Piedade, Terras, Lajes, entre outros. 
O Pico é "munto" lindo - como os habitantes da ilha costumam dizer. 





Dia 4
Contaram-me que se os currais das vinhas - que são património da humanidade considerado pela UNESCO desde 2004 - fossem colocados em linha, tinham extensão suficiente para dar a volta à europa duas vezes, dá para acreditar? 
Com o São Pedro amuado a proporcionar um tempo nublado e chuvoso a par de bastante húmido, resolvemos visitar o Museu do Vinho do Pico. O vinho - as adegas e as vinhas - são provavelmente, a par da antiga atividade balear e dos lacticínios, o que mais distingue o Pico das outras ilhas. O museu é lindo e foi grátis! 
Dos panoramas mais bonitos que cá vi, e os standards já são bastante altos. 





Dia 5
Com voo de regresso às 17h30, aproveitamos a manhã para visitar o Museu Balear do Pico: até aos anos 80 era uma das atividades mais rentáveis da ilha. Eram dias de festa: enquanto os homens iam para o mar, as esposas preparavam a comida para quando regressassem. 
Aquando da proibição da caça à baleia nos anos 80 ficou a recordação e o museu. 
A ilha subsistiu com os lacticínios (das famosas vaquinhas felizes "Uma vaca feliz. Outra vaca feliz. Uma ilha de vacas felizes"), as vinhas e agora o turismo rural. São Roque do Pico é a Capital do Turismo Rural e o efeito já se faz sentir bastante bem no crescimento e desenvolvimento da ilha. 
Em formato de despedida provei o prato mais típico do Pico: Sopas de Espírito Santo - carne de vaca cozida e sopas de pão com o molho da cozedura. No final ainda se come o arroz doce com carne assada - pouco habitual? Delicioso. Habitualmente come-se no feriado do Espírito Santo, 7 semanas após a Páscoa, mas foi feito especialmente para eu provar. Lucky me!




Uma das coisas mais caricatas é a influência americana nas palavras: "cochins" (couchins) são almofadas; "gamas" (chewing gum) são pastilhas elásticas, "alvarozes" (overalls) são macacões e a "mapa" (moppa) é uma esfregona. 

No Pico é-se mais calmo, fala-se com mais tranquilidade, conduz-se de forma vagarosa, nada-se em água de mar morna e come-se bastante bem. 



Obrigada à minha Mariana, ao Pedro fixe, ao João caladinho, à D. Lubélia, à Avó Adelaide, ao Sr. Faria, ao Rengar, à Kira e ao Balu por toda a hospitalidade. Ganhei uma casa açoreana.

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