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Não é que ela não se desse crédito.
Não se tinha em baixa conta. Não se esquecia dela mesma - não não, também não era o caso.
Mas era a fé inabalável que ela tinha - e tem - na vida que talvez estivesse a ser mal aplicada.

Isto não é algo que se aprende de nascença, não é algo que se aprende na primária entre jogos de caçadinhas e visitas de estudo, não é algo que se descobre no secundário entre namoricos e planos para o futuro: é algo que se vai aprendendo.
Pouco a pouco, passo a passo, baby steps. 

Não é que ela achasse que algo na sua vida estaria errado, também não.

Existe uma grande diferença entre algo estar errado e algo ter potencial para estar melhor ainda. Aquele espaço que existe sempre para lá da zona de conforto? Mas não é algo chocante, não é algo que grita mudança aos nossos ouvidos.

É uma coceira.
Começa vagarosamente pela ponta dos pés, vai subindo pelos braços, passa no peito e chega finalmente à mente. Vagarosamente como se quer a vida, mas como não se quer as mudanças.

Diz-se que as melhores coisas acontecem de repente. Continua sem saber se a vida é realmente assim.
Mas começa a dar-se conta que algumas lições e conclusões da vida vamos tirando, não as tiramos de uma só vez.
E esta foi acontecendo. 

Dia trinta e um de dezembro, são paulo, o termómetro rondava os vinte e muitos graus.
Ela sentia-se calma e confortada e mal sabia o que lhe esperava.
Mas quando o relógio soou a meia noite de dia um, duas horas após ter desejado "Feliz Ano Novo!" a toda a sua gente em Portugal,  algo mudou.

Como um estalar de dedos. Mas ela continuava sem saber.

Foi dormir e acordou no dia seguinte para um dia completo em família. Repleto de amor.
Era o primeiro dia de 2018.

Tomou o pequeno-almoço calmamente - ela gosta de tirar sempre tempo para ela durante a primeira refeição do dia, é um dos seus tempos de qualidade favoritos consigo mesma.

Quando saiu para enfrentar o dia reparou que algo tinha mudado, a sua mente estava diferente.
Sentiu um peso sair-lhe dos ombros, um formigueiro pelo corpo e um sensação de alma quente.
Deu por si a vaguear nos próprios pensamentos e dar-se conta que aquele seria um ano diferente. 

Deu por si a questionar-se porque razão não tirava mais tempo para ela.
Porque razão não haveria de deixar de olhar para o lado, para o que os outros  fazem/dizem/comem/vestem/compram.
Deu por si a perceber que não tem qualquer problema assumir que não gosta de castanho ou cor-de-laranja mas adora amarelo e bordeaux. 
Que às vezes não lhe apetece fazer o que tem planeado para aquele dia mas outra coisa qualquer que mantenha a sua sanidade mental, e está tudo bem. 
Que tem vontade de assumir que não é o que as outras pessoas pensam dela, isso é problema delas. Que está cansada de criar expectativas sobre tudo, de se cobrar.
Que cada pessoa está ocupada com a sua própria vida, e ela está ocupada com a dela. 
Que é linda à sua maneira, não tem que encaixar em padrões impostos pela sociedade.
Que vai aprendendo que nem tudo o que se vê é real, nem tudo o que se escreve é sentido, nem tudo o que se diz é sincero.
Que tem um escudo próprio bem forte, a sua fé: no mundo, na vida, nas pessoas, na bondade, na gentileza, nela mesma.
Que ser fiel a ela mesma tem muito mais valor do que tentar ser como o resto do mundo. 
Que o seu eterno receio de desiludir ou desagradar alguém lhe coloca um peso desnecessário nos ombros, algo que ela não tem que carregar. Agora sabe-o.

Ela é real.
Tem um metro e meio, o seu corpo tem estrias de outras batalhas, o seu cabelo encaracolado tem vida própria. Tem um sorriso fácil e constante, um brilho nos olhos e uma fé inabalável na vida. Tem energia para dar e vender.
Tem variações de humor, momentos em que tem vontade de estar rodeada do mundo e outros em que agradece que a deixem em paz. 
Ela é real.

Talvez seja maturidade.
Ou talvez não. C'est la vie. 

Mas no primeiro dia do ano ela sentiu que este ano seria diferente.
E ao dia dezassete ela continua a ter certeza. 

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